Circula nas redes sociais um post que diz que o padre Robson de Oliveira foi considerado inocente pela Justiça na Operação Vendilhões, que investiga desvio de recursos em entidades religiosas ligadas ao sacerdote.
“A justiça concluiu o Padre Robson é INOCENTE e a mídia se calou, sumiu…”
Imagem publicada no Facebook que, até as 16h do dia 4 de setembro de 2020, tinha sido compartilhada por mais de 1,1 mil pessoas
A informação é falsa. As acusações contra o padre Robson de Oliveira estão em fase de investigação, ou seja, o oferecimento de denúncia, fase anterior à análise judicial, ainda está em análise. A informação é da assessoria do Ministério Público de Goiás (MP-GO), que se manifestou por meio de nota. O MP chegou a pedir a prisão preventiva do sacerdote, mas a juíza Placidina Pires indeferiu o pedido, que avaliou que o investigado “é um líder religioso, primário e de bons antecedentes criminais”.
Em 21 de agosto, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao MP, deflagrou a Operação Vendilhões. De acordo com o MP, o pároco é investigado por supostos desvios de doações feitas por fiéis. Os desvios poderiam superar R$ 120 milhões e teriam sido feitos por meio de associações fundadas pelo padre, como a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade sem fins lucrativos criada em 2004 na cidade de Trindade (GO).
Segundo o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, que coordenou a ação, foram descobertas grandes movimentações financeiras nas contas das Afipes envolvendo compra e venda de imóveis – casas, apartamentos e fazendas – em Goiás e outros estados, além de transferências de valores entre contas bancárias.
A juíza do caso, na decisão sobre o indeferimento da prisão do sacerdote, informou que a existência de indícios da prática dos crimes citados na investigação “não se mostra suficiente para a decretação da segregação cautelar do investigado”, ou seja, as investigações continuam. No entanto, outras decisões foram tomadas, como o bloqueio judicial de R$ 60 milhões em imóveis e contas bancárias dos envolvidos.
Em vídeo divulgado um dia depois do anúncio das investigações, o sacerdote afirmou que se afastou da presidência da Afipe e negou as acusações. A arquidiocese de Goiânia chegou a emitir um decreto suspendendo temporariamente o direito do padre Robson de realizar celebrações.
Caso de extorsão
A investigação que resultou na Operação Vendilhões teve início em 2019, quando um grupo criminoso foi condenado por extorsão contra o padre Robson. Cinco pessoas extorquiram mais de R$ 2 milhões do sacerdote, com ameaças que vinham desde março de 2017, para que não divulgassem imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais que pudessem prejudicar a imagem de padre Robson.
Segundo a denúncia, o pároco chegou a transferir R$ 2 milhões das contas bancárias da Afipe para contas indicadas pelos réus. Em março de 2019, o juiz Ricardo Prata, da 8ª Vara Criminal de Goiânia, condenou os criminosos, e o processo foi enviado ao Gaeco para apurar a origem do dinheiro utilizado para pagamento de parte do valor ao grupo.
Outro lado
O advogado Pedro Paulo de Medeiros, que cuida da defesa do padre Robson, disse em áudio no WhatsApp que ainda não há conclusões sobre o caso e que, portanto, o post é falso. “O padre não foi acusado nem inocentado de nada. Há apenas uma investigação.” Também por mensagem, a assessoria do advogado disse que o padre Robson está “tranquilo” e está dedicado a esclarecer todas as “suposições” levantadas pelo MP. Segundo a defesa, o sacerdote ainda não foi ouvido nas investigações.
“Maior interessado na transparência e na verdade, padre Robson não tem dúvidas de que tudo se esclarecerá no curso das investigações: propriedades pertencem à Afipe, que sempre as declarou aos órgãos fiscais e autoridades competentes, e toda a renda da associação, proveniente das doações dos fiéis foi usada na divulgação do Evangelho e da mensagem do Pai Eterno”, diz a nota.
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