Auditor do Vaticano diz em julgamento que ficou chocado com uso indevido de fundos

Por: Redação
. Atualizado: 1/10/2022 às 02h:14
Auditor

O auditor-geral do Vaticano disse que ficou surpreso com a falta de padrões éticos demonstrados por autoridades que negociavam com o Vaticano. Isso inclui um acordo de desenvolvimento imobiliário fracassado em Londres.

Durante o julgamento do Vaticano onde 10 réus respondem a várias acusações relacionadas a má conduta financeira, Alessandro Cassinis Righini, auditor geral da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, criticou a má gestão de fundos, bem como a associação do Vaticano com pessoas “com claros conflitos de interesse”, o que resultou na perda de milhões de euros.

Essa não era a maneira de administrar os fundos do Peter’s Pence“, disse Cassinis ao tribunal em 30 de setembro. Ele referia-se ao fundo papal usado para caridade e para apoiar o funcionamento da Cúria Romana e das embaixadas do Vaticano em todo o mundo.

Quando perguntado pelos promotores do Vaticano se ele tinha certeza de que os fundos da coleção anual foram usados ​​no negócio imobiliário de Londres, Cassinis respondeu: “Sim”.

O julgamento decorre de uma investigação sobre como a Secretaria de Estado comprou propriedades no elegante distrito de Chelsea, em Londres. Além disso, a investigação quer saber o por quê do acordo ter trazido perdas tão grandes.

A Secretaria de Estado do Vaticano investiu 200 milhões de euros (mais de R$ 824 milhões na época) para comprar a propriedade em Londres. Os investimentos ocorreram entre 2014 e 2018. Adicionalmente, pagamentos a corretores e dívidas cobradas sobre o imóvel elevaram o investimento total para 350 milhões de euros.

Auditor afirma que seu escritório notificou as autoridades do Vaticano

Cassinis disse que seu escritório notificou as autoridades do Vaticano em 2019 sobre discrepâncias no acordo de propriedade de Londres.

Depondo como uma das 27 testemunhas de acusação, Cassinis disse que, no verão de 2018, o Papa solicitou que realizasse uma revisão financeira. Além disso, o papa pediu que entregasse um relatório sobre suas descobertas ao arcebispo Edgar Peña Parra, que acabava assumir como substituto do Vaticano.

O papa frequentemente solicitava essas revisões, disse ele. Mas quando ele começou sua revisão, Cassinis “imediatamente” descobriu “algumas coisas que eram muito estranhas” com o negócio imobiliário de Londres. Além disso, descobriu-se uma falta de avaliações independentes do valor da propriedade, extratos bancários e saldos.

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Petróleo offshore em Angola

Cassinis também lembrou de discussões de funcionários do Vaticano que consideraram investir milhões de dólares em uma plataforma de petróleo offshore em Angola em 2012.

Embora rejeitada a proposta de investimento, o auditor-geral disse estar “pasmo” por ela ter sido considerada, uma vez que a proposta “era contrária aos critérios ambientais contidos na ‘Laudato Si’”, encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente.

Durante a sessão judicial de 28 de setembro, Fabrizio Tirabassi, ex-funcionário da Secretaria de Estado, foi interrogado por mais de três horas pelos promotores.

Tirabassi, que responde por corrupção, extorsão, peculato, fraude e abuso de poder, foi interrogado pelo promotor do Vaticano Alessandro Diddi sobre aspectos de suas finanças pessoais e de sua esposa.

Descrevendo a renda do funcionário do Vaticano como “estável”, Diddi mostrou ao tribunal um extrato bancário suíço de 2015 de uma conta em nome de Tirabassi com um valor estimado de 1,3 milhão de euros.

No entanto, Tirabassi disse que o dinheiro veio de fundos do Vaticano que ele recebeu uma procuração a partir de 2004 por Mons. Gianfranco Piovano, ex-chefe do escritório administrativo da Secretaria de Estado.

Mons. Perlasca foi inicialmente visto como um possível suspeito depois que a polícia do Vaticano apreendeu documentos, computadores e até disquetes de sua casa e escritório em 2020. No entanto, as informações que ele forneceu voluntariamente aos promotores o transformaram de suspeito em testemunha principal.

O tribunal está programado para ouvir mais depoimentos de testemunhas nas próximas semanas, com o comissário de polícia do Vaticano Stefano De Santis programado para depor em 12 de outubro.

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